“Lambaz” – Aprendendo arquitetura tradicional durante as obras de reabilitação

Graças às explicações do empreiteiro, Sr. Jacob, aprendi um pouco mais sobre técnicas tradicionais de construção no território de Sines. Em março de 2017, depois de picar o reboco de uma parede interior na entrada da casa fundada no séc. XIX por Rafael Pai-Avô e Bernardina, a estrutura da parede e os materiais originais ficaram expostos no interior do nº 94 da R. Marquês de Pombal. Nesta parte da casa a “venda da Tia Bernardina” foi, até 1942, um espaço muito frequentado por pescadores que vinham da Ribeira. Aí tomavam vinho e comiam petiscos e marisco que traziam e cozinhavam no quintal.

A minha curiosidade também “picou” quando ouvi o termo “lambaz”, utilizado pelo Sr. Jacob para se referir à técnica utilizada na construção da parede. O “lambaz”, segundo a sua explicação, é uma técnica de construção artesanal de casas rústicas que utiliza camadas de barro não cozido (Fotografia 2), o mesmo barro que era utilizado no fabrico do tijolo burro. O barro, misturado com água e fibras vegetais, era “batido” com as mãos até ficar moldado com a consistência necessária a uma parede bem estruturada. A estrutura era reforçada com barras de madeira verticais (Fotografia 1) e horizontais em formato de moldura quadrada.

Foto 1- Parede interior. Pormenor das camadas de barro não cozido, reboco e barra de madeira vertical para sustentar as camadas de barro

Foto 2- Parede interior. Pormenor das camadas de barro não cozido e reboco

Foto 3- Parede exterior com pedra e reboco

Na aceção local (Sines, 2017) o termo é utilizado na construção artesanal de casas rústicas com os materiais recolhidos diretamente da natureza. O Sr. Jacob evocou as suas memórias do ano de 2005, aproximadamente. Num terreno situado entre S. Torpes e Porto Covo, assistiu à recolha de terra avermelhada para erigir as paredes de uma casa rústica no mesmo local da recolha. Os construtores amassaram o barro com palha, batendo o barro fresco com as mãos até moldar as paredes.

O dicionário Merriam-Webster*apresenta o verbo “lambaste” ou “lambast”. Esta é a base de uma hipótese explicativa para o uso da versão portuguesa do termo inglês. O verbo transitivo inglês “lambaste”, ou a variante “lambast”, tem origem incerta. Significa bater violenta e repetidamente. A palavra é composta pelo verbo “lam” e pelo verbo “bast”, ou “baste”.

“The origins of lambaste are somewhat uncertain, but the word was most likely formed by combining the verbs lam and baste, both of which mean “to beat severely.” (Incidentally, lambaste can also be spelled lambast, despite the modern spelling of the verb baste.) Some other synonyms of lambaste include pummel, thrash, and pound. Pummel suggests beating with one’s fists (“the bully pummeled the smaller child until teachers intervened”). Pound also suggests heavy blows, though perhaps not quite so much as pummel, and may imply a continuous rain of blows (“she pounded on the door”). Thrash means to strike repeatedly and thoroughly as if with a whip (“the boxer thrashed his opponent”).”

Sinónimos em inglês:
1. to assault violently: beat, whip
2. to attack verbally: censure critics lambasted his performance; to criticize (someone or something) very harshly
* (https://www.merriam-webster.com/dictionary/lambaste), consultado em 24.03.2017.

Tomando como plausível a origem da palavra lambaz no verbo “lambast(e)”, poderemos concluir que a apropriação popular do verbo inglês tê-lo-á convertido no termo “lambaz”, cujo uso popular em Sines passou a designar a técnica de bater o barro para moldá-lo.

A presença de ingleses no território de Sines, nomeadamente da família Pidwell, desde o séc. XIX, poderá ter influenciado a apropriação popular de vocabulário inglês.

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Maria da Luz Correia
Diretora da Associação Pátio das Memórias do Alentejo Litoral, Sines



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