Eu estava a trabalhar na fábrica de cortiça com o porta-lâmina. Quando acabei o trabalho, tentei tirar a lâmina mas ela não desencaixou. Fui lá com a ponta de um ferro para a levantar de um lado, mas o ferro escorregou e a lâmina cortou-me um pedaço do dedo [na falanginha do dedo polegar direito].
Quando me perguntaram “então e onde está o pedaço que saltou do dedo?”, eu respondi “o pedaço que saltou comeu o pinto”. Ficaram admirados “Então o pedaço comeu o pinto?!”. Eu disse “O pinto comeu-o!”. E foi verdade. Quando o pedaço do dedo caiu no chão um pinto que andava por ali comeu-o logo.
Dar a cortiça à banca era o trabalho dos principiantes. O meu irmão João fazia esse trabalho. Levava as placas cortadas à banca para a escolha.
Eu fui quadrador. Era uma criança. Fui para lá com 13 anos e saí aos 16. Trabalhava com o porta-lâmina. Diziam o “portlâmina”, na gíria.
A pessoa que está na banca recebe a cortiça e divide. Esta vai para aqui, esta vai para ali, depende da categoria da cortiça. Uns eram para fazer as rolhas, outros para outras coisas.
Unnamed Road, 7540 Santiago do Cacém, Portugal