Nos anos sessenta ainda havia arrozais no Monte Mudo. Eu sei que ali no meu monte ainda havia quando eu casei em 1961. Eu tinha 21 e agora faço 77, foi há 56 anos.
Tudo ali do meu monte para baixo era arroz. Até lá ao pé daquele monte que está à frente, depois do monte para lá faz ali uma baixa e temos aí um poço grande. O meu marido tapou aquilo. Aí também havia arroz, havia um bocado que fazia arroz.
Vinham naquela altura as mulheres do Porto Covo, vinham a pé ali a mondar arroz. Vinham do Porto Covo, ali das cabanas de Morgavel. Havia ali umas cabanas, chamavam cabanas naquele tempo, agora estão em casas. Naquele tempo começaram em cabanas e acabaram em casas.
Naquela eira grande, era ali que se debulhava o arroz. O arroz era carregado para a eira e depois o meu marido, com o trator, andava por cima do arroz para debulhar. A gente lá no monte era com as bestas, mas ali como a gente já tinha o trator… E, então, aquilo era uma lida muito bonita, eu gostava.
Na Herdade da Várzea nunca fiz essas coisas, nem ceifar, nem ir para a eira voltar aquilo. Mas lá na casa dos meus pais mondavam o arroz, carregava-se. Depois vendiam, levava-se para o Grémio.
Naquele tempo o arroz era para Sines e para Santiago. E era uma lida bonita. Agora não. Depois vim-me embora, acabou. Havia um arrozeiro, um homem que tratava das águas dos arrozes, umas vezes têm água, outras vezes não têm. Havia um homem que era empregado para fazer essas coisas. E depois acabou. Começou a haver menos pessoas para trabalhar.
Depois deixou-se de semear arroz, semeava-se milho. Depois foi tomate, também levava muita água. Aquilo estava tudo muito bonito ali de Verão, verdinho. Até naquelas encostas além, era tudo tomate. E havia muita água, era diferente. Agora não há água nenhuma, há muito menos. O meu marido trabalhou tanto a levar tomate para Alvalade. Era ele que ia levar com o trator, tanto tomate, tanto tomate que para lá ia. Havia sempre verdura, havia muita água. Depois tirava-se a água com o motor do poço e havia manchões, havia água. Agora não há água nenhuma. Sei lá, é dos tempos secos que há. Chove menos. Então naquele tempo havia água para os arrozes. Havia um tomatal e há ainda.
M554, 7520, Portugal