Vivíamos em Olhão. Os meus pais resolveram sair de Olhão e ir para Sines para melhorarem a vida. Eu tinha 13 anos. Quando chegámos a Sines estava muito frio. Chegámos no dia 1 de abril de 1950, nunca mais me esqueço. Tivemos que ir buscar mantas. No Algarve, em abril, dormíamos só com o lençol.
No princípio, as minhas irmãs e eu tomávamos banho numa selha de zinco na cozinha porque era mais quente [no nº 92 da R. Marquês de Pombal]. Havia uma casa de banho mas não tinha chuveiro. Lá em Olhão tínhamos um duche.
Quando eu e as minhas irmãs já estávamos mais crescidinhas achámos que tinha que haver um duche, não queríamos continuar a tomar banho na selha. Não queríamos passar de cavalo para burro! Os meus pais compraram um duche e um depósito de lona e passámos a lavar-nos com o duche na casa de banho, que era uma casinha no quintal.
Eu e as minhas irmãs passávamos os serões a jogar às cartas com as vizinhas do outro lado da rua, a Mariete, a Mercedes e o marido Olegário. Jogávamos à sueca e à bisca.
O quintalão, ao pé da casa de banho, tinha alegretes com plantas e uma árvore de Lúcia-lima.
Rua Marquês de Pombal 92, Sines, Portugal