Colares de pinhões

Quando eu era pequenina, aí nos anos 50, talvez, nós [Maria Antónia e as 2 irmãs] gostávamos muito de comer gelados. Mas o meu pai não nos autorizava. Primeiro, era muito engraçado porque a senhora que assava as castanhas no Campo Grande era a que vendia os gelados no Verão. Como havia muita pobreza e muito poucas infraestruturas, o meu pai não autorizava que comêssemos os gelados, nem pensar, por causa da tuberculose e das outras doenças todas que havia na altura. Não digo que fosse a tuberculose neste caso, seriam outras, como a difteria, coisas gravíssimas que havia quando nós éramos miúdos. Isso era uma das questões.

A outra questão era os colares de pinhões que se vendiam. Uns carrinhos que vendiam rebuçados, vendiam chupa-chupas e também castanhas. Às vezes, até era a mesma pessoa das castanhas, tinha dois carrinhos. E, então, a senhora tinha lá essas coisas e nós gostávamos muito de pinhões e gostávamos muito de ir comprar. O meu pai proibiu-nos porque os pinhões eram enfiados em linhas. As pessoas que faziam aquilo eram pessoas com pouca higiene e deviam cuspir na ponta da linha para enfiar a agulha, e depois passava o pinhão. Como havia, aí sim, havia o risco grande da tuberculose, o meu pai proibiu-nos totalmente de comer colares de pinhões.

Colares de pinhões

Campo Grande 1A, 1600-082 Lisboa, Portugal

Recolha
Maria Antónia, Fernão Ferro, 2017
Local e data reportados
Lisboa, Campo Grande, anos 50, séc. XX
Categoria
Migrantes
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