2ª Caixeira de balcão

O meu cunhado António, o marido da Madalena, é que me arranjou o meu primeiro e único emprego. Foi através de uns conhecimentos dele quando trabalhava em Lisboa. Perguntou-me se eu queria trabalhar nos Grandes Armazéns do Chiado e eu disse logo que sim. Parece mentira, mas fui a única das irmãs e a primeira mulher da minha família a trabalhar para um patrão e a sustentar-me a mim própria. É tão bom não depender de ninguém, nem do marido, nem deste, nem daquele!

Eu trabalhava muito, fartava-me de trabalhar. O patrão sabia e elogiava-me. Eu gostava muito do meu trabalho e fazia-o com gosto. Havia louças tão lindas! Fui 2ª caixeira de balcão, era o nome da minha categoria profissional.

Fiz muitas amizades com colegas, elas e eles, tinha muitos pretendentes. Atendia muito bem os clientes. Algumas pessoas ricas até se fizeram minhas amigas. Diziam que eu tinha muito boas maneiras, que era muito fina. Uma senhora rica, que era tratada por Madame, até queria que eu casasse com o filho dela. Eu é que não quis. Gosto muito da minha independência. Nem pensar em andar às ordens do marido e a engomar roupa de homem. Não quis isso para mim.

Fui pondo algum dinheiro de parte e comprei coisas boas. Como não tive filhos, comprei muitas coisas e ofereci às minhas irmãs e aos meus sobrinhos, às minhas amigas. Tenho oferecido muitas coisas de valor.

Às vezes aproveitava as peças com pequenos defeitos que quase não se notavam. Dizia “Ó chefe, não me deixa levar estas peças pelo menos preço? Os clientes não querem, mas eu levo, se me fizer um preço mais em conta”. ”Está bem, Gina, leve lá” era o que ele me respondia.

Mas comprei tanta, tanta coisa que a casa onde vivia já parecia a secção dos Armazéns do Chiado. Eu gosto muito de olhar para as minhas coisas. São tão bonitas!

2ª Caixeira de balcão

R. do Carmo 116, 1100-073 Lisboa, Portugal

Recolha
Virgínia, Sines, 2010
Local e data reportados
Migração de Sines para Lisboa, anos 60-70, séc. XX
Categoria
Migrantes
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